Corre pelas veias e salta pelos olhos,
este filete de sangue,
que pulsa e esquenta e transborda e mancha
pelo canto, escorrendo, mesclando com o sal
que brota do esforço.
Sangue e sal, dançando sobre o seio da face,
Como uma bomba imersa num terreno baldio, mas que é frágil e traiçoeiro,
Não pergunte, não ande sobre a mina, ela explode e espalha tudo pelo chão.
O modo mais seguro é seguir beirando, numa estrada paralela, mas atenta,
Se pudesse aninhar a bomba em seus braços, se fosse serena, se fosse segura, sei que era mais fácil,
mas não se engane, que um toque e um leve abraço já te mancham por inteiro com algo que não quer pois que não é seu...
mas a bomba shhhhhh não, nem olhe. Não olhe, não dê confiança, pois que o olhar também toca.
Caminhe pela beirada, apenas.
A metafísica da bomba também é inútil, incompreensível e um complexo interminável, sem referências... mas que tenha algum tipo de afeição,
Saber um naco é experenciar o poder, mesmo que pouco, mesmo que falso... vai que esse saber leva até um caminho seguro de aproximação...
ou de afastamento.
O sal escorre dos poros e marca a trajetória, sossega.
Sossega que o sal conversa com o sangue e o sal dos meus olhos... timidamente,
num papo que não entendemos e que talvez não seja preciso...
mas digo o que é preciso, pois que não sou tão sensível que não caibo segura nos teus braços... e sou sensível que uma palavra fria e dura e longe que sai da tua boca me corta o coração.
E talvez a ajuda existia quando não sabia tanto e achou que não existia... agora a barreira invisível me circunda.
E me tapa e me estapeia.
E a mulher que era forte e protegida numa ogiva tentou furar essa parede, tentou e tentou e o sal a sufocou o sangue jorrou e a ogiva caiu e a parede ficou.
Ficou.
Talvez seja hora da mulher bomba se despedir e partir pra um buraco no chão ou no céu, com garras ou asas, ou ambos que lhe levem dessa clausura... ela não quer estar ali.
E se o sal lhe for suas garras e asas, que seja forte e a afunde ou que seja fraco e a leve.
A mulher dos meus olhos agora busca escapatória, nua.
Quer um lugar também nu, e olhares nus, e braços nus, e vida nua.
E pensa se agora é o que precisa, daqueles teus braços-ajuda-cruzados e olhos mansos e curiosos sobre algo que está disponível numa fonte... de sal, de sangue e também de doçuras e compreensão,
pois que uma vez negados deixaram uma marca maior que se fossem apertados sobre a lataria da ogiva.
Mas eu... eu tento entender essa mulher desde que a encontrei pairando numa madrugada questionadora e sofrida, numa oração entre os montes novos de sal,
Há anos.
E no dia em que perdi a paciência, no dia em que também coloquei essa mulher de lado e mergulhei nos montes de sal...
nesse dia... eu busquei ajuda.
E tomei um caldo de mandioquinha com suco de limão.
E recebi um abraço forte de alguém que sempre o escondeu de mim.
E sarei um tanto que me fez ir ao trabalho.
E quando eu busquei o conforto de abraços que já conhecia, me foram duramente negados, como se eu precisasse de uma lição de algo que nem sei que é...
e dai, dai eu me escondi encergonhada ate ter coragem de perguntar o que eu havia feito
e perguntei
e não me disseram nada, além de que me respeitavam
então me acalmei e tentei voltar,
mas...
mas aí, quando olhei nos olhos... não tive resposta...
e aquilo me feriu sem eu ter conseguido me consertar
e daí não consegui evitar
meu coração se partiu novamente
e tanto
tanto que passaram-se dias e continuo sufocada nos montes de sal... perdida
perdida também da mulher que machuquei ao ser a primeira a deixá-la de lado
a mesma mulher que está presa em algum lugar e tentando sair...
a mulher bomba nua, desprotegida e sentindo tudo em sua pele com tanta força que...
Acho, afinal, que a força pertence a ela... só a ela, porque eu: fim.
[Estava escrito na sequência do último de 2014, apenas consertei os erros de digitação porque escrevi num rompante de sentimentos... este texto é memória e lembro do que aconteceu... enfim]